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A Espera


Eu estou com raiva
Por aqueles caras lá em cima
Nunca terem vindo me buscar
Nem se quer um maldito sinal, um telefonema
Uma visita sem avisar
Por que fiquei tantas noites lá fora esperando alguma resposta?
Por que gritei tanto acreditando
Que algum ser estranho e entediado estivesse escutando?

Agora já se foram 30 anos meu amigo
E confesso de coração que já não sei mais muito o que fazer
Assassinei o amor porque tinha certeza que poderia demorar
Mas algum dia eles apareceriam para dizer que
Está tudo bem
Que agora as coisas vão ficar melhor
E não é preciso mais passar frio, fugir e se esconder

É simplesmente inacreditável que eu esteja escrevendo novamente
Sabendo que aqueles cara lá em cima
Aqueles filhos da puta não vão aparecer
Que toda essa gente aqui ainda está perdida, sofrendo
E sem esperança alguma de que algo bom ainda vá acontecer

Queria ser mais forte que as lágrimas
Que mais uma perda não significasse nada
E ela voltasse sorrindo como se tivesse sido só um sonho ruim
E que a partir dali tudo faria sentido nessa jornada sem fim

Vocês e eles lá em cima sabem o que acontece depois disso
Estou cansado de nunca saber pra onde ir

Outro Lado


Eu vou chorar em dias errados
Sem aviso prévio ou hora marcada
Na certeza de que à partir de agora
Não teremos nada mais incerto
Estarei dirigindo pela mesma avenida
Que me trouxe flores dentro de um pesadelo
E aquela música que antes não fazia sentido algum
Agora me faz sentir tudo o que fiz de errado

Ando por aí e as coisas não parecem muito bem
Há algo de errado naquela esquina
No meu estômago e no céu também
Aonde estão aqueles que disseram que daria certo?
Procurei nos livros, na bebida e no que é proibido
Mas tudo o que consegui ao final foi uma receita
Para mais uma caixa de comprimidos

É Primavera la fora
Mas o vento e o escuro esqueceram de ir embora
Não sei o que está acontecendo dentro da minha cabeça
E com aquelas pessoas que também pensam nisso agora
A agonia deita ao meu lado todos os dias
Me abraça, envolve e susurra palavras que já foram bonitas

Siga o seu coração, abrace mais uma ilusão
Seja pego fazendo aquelas coisas que todos abominam
Virá o isolamento, a depressão e ideias de suicídio
Não há mesmo sentido embora tenhamos tentado
A vida para nesses momentos
E você deseja muito que exista mesmo outro lado

Sobre a noite e o dia


Enquanto as manhãs eram marcadas
Pelo coma da noite anterior
O vazio se superava semana após semana

Com seus insuportáveis espetáculos de realidade
Os efeitos do veneno ainda presentes
Nas primeiras horas de respiração
Apenas confirmavam que era necessário
Matar aquelas coisas que não deixavam dormir
Que era necessário olhar o mundo de uma forma egoísta
Se você quisesse continuar alimentando a ilusão
De que valia a pena e havia algum sentido em existir

Em uma hora começava toda aquela euforia
Causada pela mistura dos medicamentos
Tudo começava a ficar perfeito de uma forma
Que nada mais importava desde a noite não terminasse
E que eu ainda fosse o astro de um filme perfeito

Os anos passavam e nem mesmo a melhor mágica
Conseguia vencer a verdade para a qual todos nós
Lentamente éramos convocados
Tento não pensar que nossa importância é passageira
E que o tempo não se importa por não conseguir se importar
Tento imaginar que mais pra frente as coisas serão resolvidas
E alguém encontrará uma forma de fazer a noite não acabar

Eu tinha um amigo


Eu tinha um amigo
Um tanto quebrado.
Mas tinha postura de rei
E só fazia check-in em lugares caros.
Sabe,
Pra acharem que tinha algum trocado.

Passos sozinhos em noites estreladas



E aconteceu de você ir ao bar
E ironicamente ter se apaixonado.
Dado carona para a morte
Porque foi seduzido pelo
Seu olhar narcótico
Enquanto virava outro copo sujo
Daquele destilado barato.

O gesto bonito
De uma moça pálida
E um tanto sem vida.
Planos contra o seu próprio futuro
Que você gosta de ouvir,
E até acredita.

Amanhã você acorda
Com o humor alterado.
Não costuma falar com a família,
Muitos menos com
A mulher invisível acorda
Todos os dias ao seu lado.

A noite vai chegar
Mais uma vez, talvez
Não erre o alvo.

A febre mais longa que já tive


Embora eu tente ignorar,
Ainda lembro-me do abraço
Que por alguns minutos pareceu verdadeiro.

Talvez a febre tenha me feito
Ver coisas que ela sempre sonhou.
Alucinações que eu não questionava,
Aquele prazer único
Que por mais que você tente contar
Não há como explicar.
Só mesmo quem sentiu
É que entende o que significavam
Os suspiros em um corpo que já
Não queria mais respirar.

Ela está por aí
Causando distorções na vida
De outros caras que não
Sabem que a beleza
Muitas vezes é uma cilada

Eu sigo em silêncio meu caminho.
Sem muita vontade de conversar,
Sem mais procurar respostas
Sobre febre, sentimentos e alucinações.

Homem no carro


Vi um sujeito
Escondido dentro de um carro parado
Era um homem aparentemente normal
Até um pouco gordo
Mas parecia expressar todas as emoções
Sem nem mesmo piscar
Era um olhar que ninguém entenderia
Um suspiro congelado

Ele não parecia nervoso
Ilusoriamente calmo
Havia uma guerra acontecendo ali
Não era dessa vez que ele ia vencer
Os pensamentos seguiam desfigurados

Noturno


Eu ficava em meu quarto
Artificialmente noturno
Esperando pela ideia perfeita
Que fosse mudar mundo
Dentro da minha cabeça

Em alguns momentos
Eu escutava o vento uivando
Sua lamentável sinfonia distorcida
Ninguém ousava comentar
A chuva era a única que não o temia

O mundo das pessoas normais acontecia
Em vários idiomas do lado de fora
Eu não queria saber sobre isso
Eu queria sonhar eternamente em silêncio
Estava cansado de acordar todos os dias

Formas da vida



Em algum dia
Absurdamente comum
Alguém sem muita paciência para coisas bonitas
Sonhará, ou talvez até encontre
A vida em um formato um tanto incomum

É bem provável que esse alguém
Que pode ser você
Ou aquele cara que passou apressado
Não entenda porque tanta coisa
Parece nunca se encaixar

Eu peço calma
Para todos os que
Diariamente acordam
Com aqueles pensamentos esquisitos
Você não está louco
Só procura algo de verdade
Em que possa se agarrar

Nos últimos dias tenho acreditado
Que a melhor conversa que vou ter
Será com algum desconhecido
Que talvez nunca seja meu amigo

Pessoas estranhas podem
Salvar-nos de nós mesmos
Aprendi que isso é verdade
Mesmo custando a acreditar

Acontece em algumas Sextas-Feiras



Naqueles dias em que
O vazio ocupava a maior parte do tempo
Eu procurava respostas sábias
Nas entrelinhas de alguma
Canção já esquecida
Que eu acreditava me entender
Sempre tentei explicar
Como a vida é
Mesmo sem eu nunca ter compreendido

É outra tarde fria
Mas hoje o convidado é o Sol
Penso novamente sobre como
Livrar-me dos pensamentos que
Insistem em fazer perguntas
Sem sentido

A noite ansiosamente me aguarda
Para uma conversa sobre as garotas em volta
Aquele cigarro antes de entrar
E em qual bar pedirei a primeira Vodka

Esquecerei por um momento
Quem eu sou do lado de fora
Perguntarei alguns nomes
Convites na hora de ir embora